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Foto do escritorLendo Mulheres Negras

Você pode substituir luto pelo colonizador por...

06 (auto)biografias de mulheres negras que fizeram, e fazem, história (+ dica bônus)!


De tempos em tempos, é sempre bom lembrarmos de trajetórias inspiradoras que nos faça pensar os caminhos que estamos trilhando, sem esquecer de quem veio antes e todas a perversão cometida nas terras de nossos ancestrais, resultando na diáspora do nosso povo e anos de histórias apagadas. Sendo assim, trouxemos aqui uma listinha daquelas para salvar, anotar e compartilhar, para que não caíamos na marmota do luto de uma das principais nações colonizadoras e responsável pela pilhagem de nossas artes.

Segue o fio... e links das obras disponíveis no texto!


Para começar vamos de uma mulher enfrenta um império. A narrativa, que poderia sair das páginas de um romance contemporâneo, aconteceu de fato no século XVII e é certamente um dos capítulos mais luminosos da história africana. Esperta e feroz, sábia e arrojada, Jinga desafiou a Europa e tentou inverter – com estratégias completamente inesperadas – a lógica colonial. Quem foi esta mulher, afinal, cujos feitos chegariam até mesmo ao Brasil? Linda M. Heywood reconta essa história eletrizante e traz novos elementos à trajetória da rainha guerreira de Angola cuja astúcia política e destreza militar marcariam gerações de africanos e seus descendentes.

A professora Linda M. Heywood, autora de 'Jinga de Angola: A rainha guerreira da África' (Foto Kalman Zabarsky / Divulgação)

Linda M. Heywood é professora de História da África e Diáspora Africana na Universidade de Boston, Massachusetts (EUA). Doutorou-se em História Africana pela Universidade de Columbia. Começou sua carreira na Universidade Estadual de Cleveland (1982-1984) e lecionou no Departamento de História da Universidade Howard de 1984 a 2003. Autora de livros e artigos da área, tem sido consultora de várias exposições em museus, entre elas African Voices, no Instituto Smithsonian, Against Human Dignity, no Museu Marítimo, e a exposição permanente The Jamestown Settlement aberta em abril de 2007, na cidade de Jamestown, Virgínia. Também participou dos programas African American Lives e Finding Oprah's Roots, patrocinado pela televisão pública norte-americana. Publicado em: 2019 Editora: todavia


Sueli Carneiro é uma das principais intelectuais públicas brasileiras. Em mais de quarenta anos de ativismo, ela vem combinando escrita, academia e intelectualidade para qualificar uma luta política que enegreceu o feminismo no Brasil e, ao mesmo tempo, colocou as mulheres como protagonistas do movimento negro.


"Entre a esquerda e a direita, sei que continuo preta".


Mais do que célebre, a tirada proferida por Sueli Carneiro sintetiza um lugar político fundamental para o movimento negro brasileiro. E sua vida oferece o desenho exemplar dessa posição.


Para dar conta de uma longa trajetória política, que se confunde com a própria

história do Brasil pós-redemocratização, a jornalista Bianca Santana realizou dezenas de horas de entrevistas e empreendeu uma escavação documental cuidadosa nesta biografia que é, a um só tempo, tributo à caminhada de Sueli Carneiro, repositório de informação sobre a luta das mulheres negras no Brasil e, por tudo isso, preciosa fonte de inspiração para as futuras gerações.

Bianca Santana, jornalista, cientista social e pesquisadora - Foto: Bruno Santos/Folhapress

BIANCA SANTANA é jornalista e escritora. Doutora em ciência da informação pela Universidade de São Paulo, é autora de Quando me descobri negra (2015) e organizadora das coletâneas Inovação Ancestral de Mulheres Negras: táticas e políticas do cotidiano (2019), Vozes Insurgentes de Mulheres Negras: do século XVIII à primeira década do século XXI (2019).


Publicado em: 2021 Editora: Companhia das Letras


03. Uma autobiografia de Angela Davis

Lançada originalmente em 1974, a obra é um retrato contundente das lutas sociais nos Estados Unidos durante os anos 1960 e 1970 pelo olhar de uma das maiores ativistas de nosso tempo. Davis, à época com 28 anos, narra a sua trajetória, da infância à carreira como professora universitária, interrompida por aquele que seria considerado um dos mais importantes julgamentos do século XX e que a colocaria, ao mesmo tempo, na condição de ícone dos movimentos negro e feminista e na lista das dez pessoas mais procuradas pelo FBI. A falsidade das acusações contra Davis, sua fuga, a prisão e o apoio que recebeu de pessoas de todo o mundo são comentados em detalhes por essa mulher que marcou a história mundial com sua voz e sua luta.


Questionando a banalização da ideia de que "o pessoal é político", Davis mostra como os eventos que culminaram na sua prisão estavam ligados não apenas a sua ação política individual, mas a toda uma estrutura criada para criminalizar o movimento negro nos Estados Unidos. Além de um exercício de autoconhecimento da autora em seus anos de cárcere, nesta obra encontramos uma profunda reflexão sobre a condição da população negra no sistema prisional estadunidense.

Angela Davis / Foto: Djeneba Aduayom for TIME

Angela Davis é filósofa, professora emérita do departamento de estudos feministas da Universidade da Califórnia e ícone da luta pelos direitos civis. Integrou o Partido Comunista dos Estados Unidos, tendo sido candidata a vice-presidente da República em 1980 e 1984. Próxima ao grupo Panteras Negras, foi presa na década de 1970 e ficou mundialmente conhecida pela mobilização da campanha “Libertem Angela Davis”. Autora de vários livros, sua obra é marcada por um pensamento que visa romper com as assimetrias sociais.


Publicado em: 2019 Editora: Boitempo


04. 'Minha carne: Diário de uma prisão' de Preta Ferreira

No dia 24 de junho de 2019, Preta Ferreira e seus familiares foram surpreendidos pela manhã por dois homens, uma mulher e um mandado de busca e apreensão. Não seria a primeira nem a última vez que Preta precisaria lidar com o abuso do Estado, e, nesse caso, nas primeiras páginas de seu diário, a artista já mostra a confiança de que o infortúnio duraria, no máximo, alguns dias. No entanto, ao contrário de suas expectativas iniciais, Preta Ferreira ficou presa injustamente até 10 de outubro de 2019.


Em Minha carne: diário de uma prisão, estão relatados os longos dias de cárcere, os processos pelos quais passou, as etapas do sistema prisional, os trâmites jurídicos, as emoções que viveu e o que ouviu de outras mulheres com quem compartilhou esse tempo. Com oscilações de humor – como medo, raiva e também inspiração –, Preta escreve e mescla sua rotina e seus pensamentos com poemas e músicas. O tom da obra remete, ainda, a um grito por justiça.


O livro conta com uma apresentação sobre a vida da cantora e com surpresas inesperadas – como quando recebeu a visita, em sua casa, da ativista Angela Davis –, além de reflexões pós-cárcere em plena pandemia. Respondendo ao processo em liberdade e obrigada a seguir diversas regras, como horário para sair e voltar para casa e compromissos no fórum de justiça, ainda há um árduo caminho até a finalização do processo: “Eu tô livre, mas continuo presa”.

Preta Ferreira / Imagem: Divulgação

Janice, mais conhecida como Preta, nasceu na Bahia e se mudou São Paulo, onde vive atualmente. Formou-se publicitária em 2012 e passou a atuar no universo da cultura, do qual até hoje faz parte. É produtora de filmes, shows e eventos; apresentadora do boletim web Lula Livre; atriz; cantora... enfim, uma multiartista. Atualmente também tem dado palestras e participado de eventos sobre racismo, feminismo, preconceitos, justiça social, abolicionismo e questões de moradia.


Publicado em: 2020 Editora: Boitempo


05. 'Minha história' de Michelle Obama

Um relato íntimo, poderoso e inspirador da ex-primeira-dama dos Estados Unidos. O livro que já vendeu mais de 10 milhões de exemplares no mundo e está há mais de 50 semanas na lista de mais vendidos da Veja.


Com uma vida repleta de realizações significativas, Michelle Obama se consolidou como uma das mulheres mais icônicas e cativantes de nosso tempo.


Como primeira-dama dos Estados Unidos – a primeira afro-americana a ocupar essa posição –, ela ajudou a criar a mais acolhedora e inclusiva Casa Branca da história. Ao mesmo tempo, se posicionou como uma poderosa porta-voz das mulheres e meninas nos Estados Unidos e ao redor do mundo, mudando drasticamente a forma como as famílias levam suas vidas em busca de um modelo mais saudável e ativo, e se posicionando ao lado de seu marido durante os anos em que Obama presidiu os Estados Unidos em alguns dos momentos mais angustiantes da história do país. Ao longo do caminho, ela nos ensinou alguns passos de dança, arrasou no Carpool Karaoke e criou duas filhas responsáveis e centradas, apesar do impiedoso olhar da mídia.


Em suas memórias, um trabalho de profunda reflexão e com uma narrativa envolvente, Michelle Obama convida os leitores a conhecer seu mundo, recontando as experiências que a moldaram – da infância na região de South Side, em Chicago, e os seus anos como executiva tentando equilibrar as demandas da maternidade e do trabalho, ao período em que passou no endereço mais famoso do mundo. Com honestidade e uma inteligência aguçada, ela descreve seus triunfos e suas decepções, tanto públicas quanto privadas, e conta toda a sua história, conforme a viveu – em suas próprias palavras e em seus próprios termos.


Reconfortante, sábio e revelador, Minha história traz um relato íntimo e singular, de uma mulher com alma e consistência que desafiou constantemente as expectativas – e cuja história nos inspira a fazer o mesmo.

Michelle Obama. (Foto: Reprodução/Instagram @ebonycelebfeet.)

MICHELLE ROBINSON OBAMA foi primeira-dama dos Estados Unidos entre 2009 e 2017. Formada em Princeton e Harvard, iniciou a carreira como advogada na firma Sidley & Austin, onde conheceu seu futuro marido, Barack Obama. Trabalhou na prefeitura de Chicago e no Centro Médico da Universidade de Chicago, além de fundar na cidade a filial da Public Allies, uma organização que prepara jovens para seguir carreira no serviço público. O casal Obama vive atualmente em Washington, DC, e tem duas filhas, Malia e Sasha.


Publicado em: 2018 Editora: Objetiva


06. Casa de Alvenaria, Volumes 01 e 02 de Carolina Maria de Jesus

'CASA DE ALVENARIA - VOLUME 1: OSASCO' - Com edição integral, ampliada com conteúdo inédito e refeita a partir dos manuscritos originais da autora, este primeiro volume de Casa de alvenaria abarca os meses em que Carolina Maria de Jesus morou em Osasco (SP), em 1960, após deixar a favela do Canindé.


Através deste testemunho precioso que borra as fronteiras dos gêneros literários, acompanhamos a recepção de Quarto de despejo, as viagens de divulgação, o contato frequente com a imprensa e os políticos, o desenvolvimento de seu projeto literário e seu desejo de ser reconhecida como escritora. Dessa narrativa do cotidiano, entremeadas às contradições de seu tempo, emergem reflexões que permanecem mais atuais do que nunca.


Eis aqui Carolina por completo, uma escritora brilhante e sem-par em nossa literatura, que desafiou todas as barreiras impostas por uma sociedade racista e desigual.

'CASA DE ALVENARIA - VOLUME 2: SANTANA' - Em dezembro de 1960, depois de deixar a favela do Canindé e morar brevemente em Osasco, Carolina Maria de Jesus comprou sua tão sonhada casa de alvenaria, em Santana, onde viveu antes de se mudar para um sítio em Parelheiros.


Este segundo volume de Casa de alvenaria inclui diários que se estendem até dezembro de 1963, com conteúdo inédito ou fora de circulação há décadas. Através desses registros, acompanhamos a nova vida de Carolina, a movimentação em sua casa, as viagens e, sobretudo, a dificuldade de transpor as barreiras do racismo e da estigmatização para ser reconhecida como escritora.


Feita a partir dos manuscritos originais de Carolina, esta nova edição é uma oportunidade de conhecer uma das maiores escritoras brasileiras na íntegra e por ela própria – seus sonhos, suas vontades, seu projeto literário e suas desilusões. Os volumes de Casa de alvenaria podem ser lidos de forma independente.

"Ler Casa de alvenaria é penetrar no universo íntimo de uma das autoras mais instigantes da literatura brasileira." – da introdução de Conceição Evaristo e Vera Eunice de Jesus

Carolina Maria de Jesus. 18 de novembro de 1960. Acervo UH/Folhapress

CAROLINA MARIA DE JESUS nasceu em 1914, em Sacramento (MG), mas viveu boa parte de sua vida na cidade de São Paulo – na favela do Canindé, em Santana e em Parelheiros. Com a publicação de Quarto de despejo (1960), que reunia fragmentos de seus diários sobre a vida na favela, ganhou projeção nacional e internacional. Em vida, lançou ainda Casa de alvenaria (1961), Pedaços da fome (1963) e Provérbios (1963). Morreu em 1977, aos 62 anos, em decorrência de uma crise de asma, deixando uma vasta obra composta pelos mais diversos gêneros literários, parte da qual ainda permanece inédita. Publicado em: 2021 Editora: Companhia das Letras

Bônus: 'Eu sei por que o pássaro canta na gaiola'
e 'Mamãe & Eu & Mamãe' de Maya Angelou

Para encerrar do melhor jeito, fica aqui a primeira e a última autobiografia lançada por Maya Angelou, esta rainha que produziu muitas ao longo de sua vida, cada uma mais impactante que a outra.

'Eu sei por que o pássaro canta na gaiola' - RACISMO. ABUSO. LIBERTAÇÃO. A vida de Marguerite Ann Johnson foi marcada por essas três palavras. A garota negra, criada no sul por sua avó paterna, carregou consigo um enorme fardo que foi aliviado apenas pela literatura e por tudo aquilo que ela pôde lhe trazer: conforto através das palavras. Dessa forma, Maya, como era carinhosamente chamada, escreve para exibir sua voz e libertar-se das grades que foram colocadas em sua vida. As lembranças dolorosas e as descobertas de Angelou estão contidas e eternizadas nas páginas desta obra densa e necessária, dando voz aos jovens que um dia foram, assim como ela, fadados a uma vida dura e cheia de preconceitos. Com uma escrita poética e poderosa, a obra toca, emociona e transforma profundamente o espírito e o pensamento de quem a lê.


Publicado em: 2018 Editora: Astral Cultural


'Mamãe & Eu & Mamãe' - Último livro publicado pela poeta e ativista, Maya Angelou.


Mamãe & Eu & Mamãe descreve seu relacionamento conturbado com a mãe, a empresária Vivian “Lady” Baxter, com quem voltou a morar aos 13 anos, depois de dez sob os cuidados da avó paterna. É a jornada de uma mãe e filha em busca de reconciliação assim como uma reveladora narrativa de amor e cura.

“Conduzindo-nos a um portal no qual acessamos em profundidade temas como casamento, cuidado, família, maternidade, lazer e trabalho, tendo como pano de fundo os EUA da segregação racial e da luta por direitos civis, Mamãe & Eu & Mamãe é um clássico, representativo do universo no qual Mulheres Negras são do começo ao fim autoras, sujeitas e donas de suas próprias histórias.” – Giovana Xavier, Historiadora, Profª Faculdade Educação UFRJ, coordenadora do Grupo Intelectuais Negras.

Maya Angelou / Imagem: Reprodução/Instagram

Publicado em: 2018

Editora: Grupo Editorial Record Maya Angelou, pseudônimo de Marguerite Ann Johnson, nasceu em 4 de abril de 1928, em St.Louis, nos Estados Unidos. Além de escritora, foi também dançarina, cantora, atriz, professora e ativista política. Sua primeira obra — a bem-sucedida autobiografia 'Eu sei por que o pássaro canta na gaiola' — foi publicada em 1969 se tornando best-sellers - mas ao longo de sua vida escreveu várias outras, além de vários livros de poesia, dentre eles Phenomenal Woman, And Still I Rise, On the Pulse of Morning e Mother, a rainha Maya Angelou faleceu em 2014. E ai, quantas outras mulheres negras devemos celebrar: vida, obra e tragetórias?


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